Mariana Castillo Deball: Moi-Peau
I am talking about the skin in its impact upon the mind, what I have called the Skin-Ego
Didier Anzieu, A Skin for Thought
A Kunsthalle Lissabon apresenta Moi-Peau, a primeira exposição individual da artista mexicana Mariana Castillo Deball em Portugal.
O Eu-Pele (Le Moi-Peau) é um conceito desenvolvido em 1974 pelo psicanalista francês Didier Anzieu para dar conta das relações entre a experiência da pele e a formação e manutenção do eu (ego). Para Anzieu, o ego é a projeção na psique da superfície do corpo, nomeadamente a pele, que funciona como uma membrana ou interface. A pele permite-nos distinguir excitações de origem externa daquelas que são originadas no nosso interior; uma das funções do ego consiste assim em distinguir o que pertence a mim próprio daquilo que não pertence, entre o que vem de mim e o que são os desejos, pensamentos e afetos dos outros, e identificar a realidade física (o mundo) ou biológica (o corpo) que é exterior à mente. O Eu-Pele é simultaneamente um recipiente que mantém juntas todas as partes do self, um ecrã excitatório, uma superfície em que se inscrevem signos, e um guardião da intensidade dos instintos que se encontram no corpo.
A exposição na Kunsthalle Lissabon inclui também a peça Do ut des, que Mariana Castillo Deball tem vindo a desenvolver ao longo dos anos. Do ut des é uma série de livros alterados com perfurações, começando da capa para o interior do livro, formando assim uma série de padrões simétricos visíveis quando cada livro é aberto. Os livros pertencem à coleção 'O Mundo dos Museus', concebida pelo designer brasileiro Eugênio Hirsch nos anos setenta, e que oferece aos leitores um passeio pelos museus e a forma como funcionam, não apenas um simples catálogo de obras das sua coleções. Cada volume é dedicado a um diferente museu mundial, e abre com uma reportagem fotográfica do museu em funcionamento, a sua arquitetura e paisagem urbana, o modo de manuseamento e restauro das obras e os visitantes passeando pelas suas salas de exposição. Um spread de duas páginas em que imagens de visitantes e de obras são montadas em conjunto indicam a escala das obras em relação à humana.
Mariana Castillo Deball (Cidade do México, 1975) é uma das artistas contemporâneas mexicanas com maior visibilidade internacional, tendo já mostrado o seu trabalho em inúmeras exposições individuais e coletivas, como as prestigiadas Bienal de Veneza e a Documenta de Kassel. Recentemente venceu o importante prémio alemão Preis der Nationalgalerie für Junge Kunst (Prémio da Galeria Nacional para Arte Jovem), que se materializou na realização de uma exposição individual de grande dimensão na Hamburger Bahnhof - Museum für Gegenwart em Setembro deste ano. A sua obra tem vindo a abordar os mecanismos de classificação e a forma como os acontecimentos, a história e a cultura foram escritos, arquivados e distribuídos. Grande parte dos seus trabalhos revelam um interesse pela forma como a exposição de objetos arqueológicos se disseminou historicamente através de réplicas, ilustrações e livros. As suas obras tendem a investigar como objetos do passado foram tratados, manipulados e interpretados. Realizou inúmeras exposições individuais, destacando-se as apresentadas no Museu Experimental el Eco, Cidade do México; Museu de Arte Latinoamericano-Mola, Los Angeles, no CCA de Glasgow, na Chisenhale Gallery de Londres e na TEOR/éTica, San José.
A exposição de Mariana Castillo Deball é generosamente apoiada pela Embaixada do México em Portugal e faz parte das comemorações do 150º aniversário das relações diplomáticas entre o México e Portugal.
A Kunsthalle Lissabon é generosamente apoiada pela Teixeira de Freitas, Rodrigues e Associados.