La Chola Poblete: PAP ART
A Kunsthalle Lissabon tem o prazer de apresentar PAP ART, a primeira exposição individual em Portugal, e na Europa, da artista argentina La Chola Poblete.
A palavra “ícone” deriva do grego “εἰκών-όνος”, uma palavra mais frequentemente usada como prefixo, que indica simplesmente uma figura, uma representação de algo. Com o passar do tempo, o significado da palavra alterou-se e assumiu significados mais próximos da noção de singularidade. Um ícone é um modelo a ser observado, venerado e no qual, possivelmente, nos inspiramos. Com o mesmo orgulho e facilidade com que a palavra “εἰκών” passou de representar uma imagem para um modelo real de comportamento, La Chola coloca-se no centro de todas as suas obras, tornando-se no ícone incontestável que afirma ser observado, venerado e, por que não, inspirador.
Uma balança com um sinal de ‘batatas grátis’ dá as boas-vindas a quem visita a Kunsthalle Lissabon. A curiosidade e o som de um disco a tocar atraem as pessoas para o espaço da exposição no piso inferior, cujo chão se encontra, para a ocasião, coberto de batatas. O convite é sincero e as batatas podem ser levadas gratuitamente à saída, não apenas como parte da instalação, mas acima de tudo como uma parte da artista que, de forma irónica, se oferece na forma de uma batata a todos aqueles que a queiram “comer”.
A protagonista absoluta do espetáculo que é PAP ART é Mary II, uma escultura de uma virgem posicionada no centro da exposição. A sua estrutura lembra as “vírgens para vestir”, também conhecidas como “las Dolorosas”, esculturas que, a partir do final do século XVI, eram colocadas em andores durante procissões religiosas em Espanha. Extremamente bem definidas na sua parte superior, quase sempre caracterizadas por uma expressão sofredora, da cintura para baixo eram deixadas nuas ou absolutamente sem caracterização porque projetadas para serem vestidas, escondidas, e não para mostrar o que tinham por baixo. Essa falta de caracterização da cintura para baixo tornava-as, de alguma forma, mutiladas, privadas de qualquer característica sexual, enquanto também as torna livres para serem o que quiserem ser.
Essa liberdade é a que gira em torno de toda a exposição. “Quando esperam que eu seja uma vítima, eu sou Diva”, diz La Chola Poblete no manifesto do seu novo single, habilmente intitulado Pop Andino. Uma afirmação que parece redimir até mesmo a Virgem que, feita de pão para a ocasião, desafia os estereótipos preestabelecidos de beleza. As primeiras cópias do novo álbum da artista são exibidas num dispositivo transparente colocado em frente da Virgem. Na capa, uma homenagem à grande cantora italiana Mina, fotografada por Mauro Balletti nos anos 80, para a capa do álbum Salomé. A feminilidade de La Chola Poblete, assim como a de Mina, explode em toda a sua sexualidade, apesar da longa barba que cresce no seu rosto.
Enquadrando toda a instalação, encontramos três aguarelas da série das Virgens: La Virgen de los Lirios, Nuestra Señora de los Dolores, Nuestra Señora de la Ansiedad, bem como uma pintura onde uma silhueta negra incorpora múltiplos atributos sexuais enquanto defende orgulhosamente cada possibilidade e hibridização que ocorre sob os olhos de Deus. Todas as obras apresentadas combinam simbolismo ancestral e mitologia com reflexões da artista sobre sexualidade, religião, política, ecologia e história, desafiando estereótipos e clichês com o único propósito de subvertê-los e expandir as suas fronteiras.
Finalmente, uma série de cartazes retratando La Chola em todo o seu esplendor icónico pontuam o espaço, anunciando o lançamento do seu novo álbum, mas também as suas exposições como se fossem momentos da turnê mundial de uma estrela pop global.
PAP ART é assim um hino à generosidade. A generosidade com que a artista compartilha a sua segurança com os outros “Eu vendo... a garra que tu não tens!” cantava Renato Zero nos anos 80. La Chola não vende, ela oferece gratuitamente. Questionando as identidades dos corpos, as tradições ancestrais em hibridização com o nosso tempo presente, a cultura hegemónica e a discussão eterna sobre beleza, a artista oferece o seu orgulho, um presente que é, ao mesmo tempo, o ato mais político e generoso que nos pode ser dado.
La Chola Poblete (1989, Mendoza, Argentina) é uma artista multidisciplinar que trabalha com
performance, foto-performance, vídeo-arte, fotografia, pintura, desenho e escultura. Estudou Artes
Visuais na Universidad Nacional de Cuyo. La Chola Poblete participou em exposições coletivas e
individuais na Argentina e no exterior, como: La Marca Original no Centro Cultural Kirchner em
Buenos Aires, Esercizi del Pianto no Museu Provincial de Belas Artes Franklin Rawson, San Juan,
ESCRAVO no Museu Carlos Alonso, Mendoza, Tenedor de hereje na Galeria Pasto, em Buenos Aires,
Ecce Homo na Galeria POGGI, França, Eros Risin na Galeria Islaa, Nova Iorque, Garganta, no
Centro Internacional das Artes José de Guimarães, Portugal. Participou na ARCO Madrid com uma
apresentação individual selecionada para a seção de Arte Latino-Americana, com curadoria de Manuela
Moscoso e Mariano Mayer. Recebeu prémios como o Banco Ciudad em 2022 e é a Artista do Ano 2023
pelo Deutsche Bank.
A Kunsthalle Lissabon é generosamente apoiada pela República Portuguesa / DGArtes, Câmara Municipal de Lisboa, Coleção Maria e Armando Cabral.