Gabriel Chaile: Migrantes são bem-vindos
A Kunsthalle Lissabon apresenta Migrantes são bem-vindos, a primeira exposição individual em Portugal do artista argentino Gabriel Chaile.
Às vezes, uma frase na parede ou um cartaz podem tocar-nos muito mais do que um longo discurso que ouvimos com atenção. Migrantes são bem-vindos não é apenas o título da primeira exposição em Lisboa de Gabriel Chaile, mas foi também a mensagem que o artista encontrou escrita num cartaz na rua durante a primeira quarentena que passou em Lisboa.
Esse cartaz, que provavelmente se apresentou ao artista como uma mensagem de esperança e um doce alívio, anunciava o início da maioria dos projetos que Chaile decidiu realizar na nova cidade que acabara de o receber. Em Lisboa organizou exposições em sítios inusitados e fundou espaços independentes, conseguindo, num curto espaço de tempo, integrar-se suavemente no contexto da cidade. Cada projeto não poderia deixar de contar com a participação de amigos de longa data e principalmente pela partilha de saberes, culturas e comida. Durante esta viagem as histórias pessoais, a música e as tradições culinárias revelaram-se os mais fortes unificadores, a par do incentivo solidamente construído para continuar a sentir-se acolhido nesta nova cidade.
El Recolector é o nome do centro cultural itinerante que Gabriel Chaile imaginou para reunir todos esses elementos na forma de um espaço gastronómico nómada, que viaja de lugar em lugar recolhendo sabores, conhecimentos e gerando novos e inesperados encontros.
O projeto El Recolector vai transformar o espaço expositivo da Kunsthalle Lissabon num laboratório onde dois fornos estarão em constante desenvolvimento e onde o artista e os seus companheiros trabalharão ao longo de toda a exposição. Este será mais um passo no desenvolvimento do design e da funcionalidade dos protótipos, com o objetivo de prepará-los para receber e colecionar novas histórias e novas experiências, nomeadamente a experiência de alimentar-se (e poder alimentar outros).
Durante a inauguração, e no espaço exterior, um amigo de Gabriel, Aaron Jassiel Herrera Villarreal, um chef mexicano que vive em lisboa e fundou o projecto Tacos El burro sin dueño, vai receber os visitantes com tacos caseiros acabados de fazer.
Sempre interessado em promover aspectos manuais e artesanais, o trabalho de Chaile situa-se entre o utilitário e o contemplativo, nunca esquecendo o sentido fundamental da construção e vivência comunitárias. Criar esculturas e objetos que colaboram para melhorar as condições de uma determinada situação e sublinhar a herança cultural que cada objeto pode carregar em si são também dois elementos sempre presentes no seu trabalho. Se recordar as nossas tradições parece ser o que nos define, difundi-las e colocá-las em contacto, sinergia ou antagonismo com outras é o que permite que as tradições sobrevivam ao longo do tempo.
Gabriel Chaile parece ter entendido perfeitamente o poder do património e a importância de compartilhá-lo, não apenas para realizar um ato de conservação, mas sobretudo para construir novas comunidades de amigos, colegas e familiares, todos unidos pelo que mais prezam: a sensação de hospitalidade, generosidade e sociabilidade.
Gabriel Chaile (1985, Tucumán, Argentina) vive e trabalha entre Lisboa e Buenos Aires. Formou-se em Belas Artes pela Universidade Nacional de Tucumán. Em 2009 recebeu uma bolsa da Fundação YPF e realizou o Programa de Artistas da Universidade Torcuato Di Tella em Buenos Aires. Desde então, participou em inúmeros programas e residências artísticas, tais como: Lipac, Centro Cultural Ricardo Rojas, Buenos Aires; Callao Monumental, Peru; SENS e URRA, Buenos Aires. Entre as suas exposições individuais recentes: Me Hablan de oscuridad pero yo estoy encandilado, Barro, New York (2021); Esta canción ya tuvo aplausos, Chertlüdde, Berlin (2019). Gabriel Chaile expôs em números museus e centros de arte internacionais, destacando-se New Museum Trinnial, Nova Iorque; Museu de Arte Moderna de Buenos Aires (MAMBA); Art Basel Cities ou a Fundação Thalie, Bruxelas. Em 2022, participou na 59a Bienal de Veneza e na Bienal de Gherdëina. A sua obra está presente nas seguintes coleções: MALBA - Fundación Costantini, Buenos Aires; Coleção Thyssen-Bornemisza, Madrid; Fundação Kadist, Paris.
A Kunsthalle Lissabon é gentilmente apoiada pela República Portuguesa / DGArtes, Câmara Municipal de Lisboa, Coleção Maria e Armando Cabral.
P.S. Migrantes são bem-vindos adquire sentido em comunidade: atendendo afetos, compartilhando, comendo e aprendendo. Algumas destas fotografias são apenas representações das esculturas que tomam vida através do seu uso, por isso, muito obrigado a todes que participaram na inauguração, e assim ajudaram a completar o sentido da exposição.