Carla Filipe: É um espaço estranho e maravilhoso, o ar é seco, quente e insípido
As questões levantadas pela tradução de algo noutra coisa constituem-se como o ponto central do projecto de Carla Filipe para a Kunsthalle Lissabon. O título bilingue é disso um exemplo, explicitando claramente a impossibilidade de uma tradução fiel e que faça justiça à ideia inicial, de onde a tradução parte e cujo sentido pretende manter intacto. Mais do que uma simples alusão a correspondências linguísticas, Carla Filipe aborda o fenómeno de tradução cultural num sentido mais lato. A correspondência do título com o que é dado a ver no espaço expositivo continua esta linha de investigação, já que título e exposição podem ser considerados como completamente antinómicos. O espaço quente e maravilhoso que o título menciona não será mais que uma vaga ideia, sem nenhuma ligação ao lugar frio, desconfortável e inóspito em que a Kunsthalle Lissabon se irá tornar. Mais do que procura de uma correspondência perfeita entre original e tradução, entre um ponto de partida e o destino final, a artista lida com a acumulação de uma pluralidade de referências, que partem de de um tema específico (a relação do indivíduo com a ideia de túnel, catacumba ou submersão, por exemplo) para convergirem no projecto agora apresentado. O horário de funcionamento será alterado exclusivamente para esta exposição, de maneira a tornar mais explicitas as ideias de tradução e ajuste de expectativas que caracterizam este projecto.
Carla Filipe nasceu em Aveiro em 1973 e vive actualmente em Londres e no Porto. Licenciada em Artes Plásticas-Escultura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto e mestre em Práticas Artísticas Contemporâneas pela mesma instituição, é actualmente bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian nos Acme Studios em Londres. Começou a expor no início dos anos 2000, destacando-se as seguintes exposições individuais: Quem espera é pobre, Galeria Reflexus, Porto (2009); These Things Take Time, Espaço Campanhã, Porto (2009); Desertar, InTransit, Porto, (2007); Obrigado pela conversa, A Sala, Porto, (2006); Without Name, Galeria Quadrado Azul, Porto, (2005); Zona de Estar, Salão Olímpico, Porto (2004). Da sua participação em inúmeras exposições colectivas destacam-se: Entroncamento, Espaço Avenida, Lisboa (2009); Hospitalidade, Hospital de São João, Porto (2009), Está a morrer e não quer ver, Espaço Campanhã, Porto (2009); Part-ilha, Spike Island, Bristol (2008); INTRO, Contretype, Bruxelas (2007); Busca Pólos, Centro Cultural Vila Flor, Guimarães e Pavilhão de Portugal, Coimbra -co-produção com o Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto- (2006); Toxic - O Discurso do Excesso, Terminal e Plano 21, Oeiras (2005); O Homem Invisível, ZDB, Lisboa (2004). De salientar também a sua actividade associativa no desenvolvimento e programação dos espaços alternativos da cidade do Porto. É representada pela Galeria Reflexus, Porto.
Exposição financiada pelo Ministério da Cultura / DGArtes.